Este trecho é parte do episódio 26 do podcast Os Goleiros com a Mary Camilo, goleira do Cruzeiro e com passagens por Grêmio, Vitória e São Francisco (BA). Ela fala sobre o momento mais delicado da sua carreira de atleta: descobrir uma gravidez e ter de lutar contra a desconfiança de que nunca mais seria uma jogadora de futebol.
“No momento em que eu descobri a minha gravidez foi quando eu estava começando a explodir no futebol
Era aquela vontade dentro de mim: eu era goleira e sabia fazer aquilo ali.
Veio a notícia da gravidez.
Para mim foi bastante difícil porque eu achei que não poderia mais jogar bola.
Você pensa que um filho é um atraso de vida…
Fiquei um ano e pouco afastada, os nove meses da gravidez mais os sete meses do meu parto cesárea.
Depois que eu tive meu filho e voltei para o meu primeiro treino, no São Francisco, meu treinador chegou para mim e disse:
- Você não vai ser a mesma pessoa. Engravidou no momento em que estava no auge da carreira.
Eu respondi que estava tranquilo e tudo bem.
Dali eu fui para o Vitória, que me deu uma oportunidade.
E fiquei surpresa porque com 3 meses de treinamento eu consegui a convocação para a Seleção sub-20.
Hoje a minha força vem dele [Raylan, filho].
Eu já pensei em parar várias vezes com o futebol, quando bate aquele desânimo.
Mas é difícil porque ele está em Salvador, meus pais cuidam dele, e eu estou longe.
É difícil porque eu sou a mãe dele e quem cuida dele sou eu. Muitas vezes bate esses negócios na cabeça…
Eu uso ele como referência, meu foco é ele. Porque eu sei que tenho de dar o meu melhor, porque como estou longe eu ajudo mais ele do que se estivesse perto.
Ele liga para mim, ele assiste aos meus jogos quando passam na TV ou pelo link que a CBF disponibiliza. E ele fala:
- Vamos, mamãe!
Ele está na torcida por mim sempre!
Sei que ele está torcendo por mim e quer que eu dê o meu melhor. E eu vou dar o meu melhor por ele.
Graças a Deus eu nunca tive um problema com o meu físico porque eu sempre fui magra.
Eu tinha na minha cabeça que quando eu tivesse o resguardo dele e eu voltasse a treinar eu queria voltar ao futebol.
Então eu sempre me cuidei, durante a gravidez e após três meses de resguardo eu estava fazendo algumas coisas, como andar ou correr. Até que com 5, 6 meses eu voltei para a academia.
Durante a gravidez eu tinha comigo que ia voltar para o futebol.
Antes de jogar eu procuro ligar para ele. Todos os dias eu procuro ligar para ele. Saio do treino exausta, acabada e até machucada, mas eu ligo pra ele.
Só de falar com ele a bateria enche novamente. Não enche 100%, enche 200, 300…
Não é praga, claro, mas toda jogadora de futebol deveria ter essa experiência, porque ela é maravilhosa!”
Aperte o play abaixo para ouvir o episódio completo com a Mary Camilo:
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