Este trecho é parte do episódio 25 do podcast Os Goleiros com o Mateus Pasinato, goleiro do Moreirense, de Portugal. Ele fala sobre as diferenças da escola do goleiro europeu e do treinamento específico para a posição na equipe portuguesa
“As pessoas têm muita curiosidade para saber como é o treino de goleiro aqui na Europa e no Brasil.
Eu digo que o treino de goleiro no Brasil ele é um treino muito analítico, vamos dizer assim, porque você já está programado a fazer uma sequência fixa.
Você faz seis bolas rápidas no chão, depois seis bolas à meia altura, depois seis bolas de mão trocada.
Então você acaba perdendo um pouco daquela situação inesperada que o jogo oferece.
Já aqui se trabalha muito o inesperado, a reação.
Você tem de estar com o seu corpo equilibrado, com as pernas e o tronco; deslocamento rápido para estar equilibrado na hora do chute, ou seja, parar e estar em pé na hora do chute.
Então trabalha-se muito essa situação inesperada: bola rasteira pode vir curta, pode vir longa, pode ter uma situação de segunda bola…
Basicamente se trabalha isso.
Também trabalha-se muito o controle de profundidade, o goleiro sendo o pivô da linha defensiva, porque costuma-se jogar com a linha mais alta em comparação às equipes que eu joguei no Brasil.
Então você tem esse papel fundamental.
O seu posicionamento de corpo, para você não ficar com os pés paralelos numa bola de infiltração, mas sempre com um pé à frente, preparado para uma saída.
Uma situação que me adaptei aqui: nas bolas rasteiras, eu sempre fazia a entrada completa. Sempre!
E aqui, devido também ao gramado sempre ser molhado antes de o jogo começar, e do reinício da partida, a bola às vezes vem muito rápida e não dá tempo de fazer aquela entrada completa, aquela bonita que nós brasileiros temos de melhor - isso até o pessoal sempre fala.
Usa-se a parada de mão. E eu pensava e falava para o treinador de goleiro: eu não vou conseguir fazer isso, a bola vai passar. Vai trabalhando e confia, que você vai ver que vai te fazer defesas mais fáceis numa situação mais difícil.
Aqui treina-se muito para, num cruzamento, você ficar com a bola, já no Brasil nós temos por instinto dar muito soco.
Eu era assim, gostava muito de sair, mas poucas vezes ficava com ela. E é uma das coisas aqui que eles procuram trabalhar muito e é um diferencial dos goleiros daqui.
Outra situação também, que é um pouco curioso: os cruzamentos, na maioria das vezes não é aquela bola bambeada, de treinamento de goleiro, que todo mundo gosta.
São chutes na direção do gol. E são chutes entre a linha da zaga e o seu limite, então é essa situação de estar sempre desconfortável, seja em cruzamento, seja em falta lateral ou escanteio.”
Aperte o play abaixo para ouvir o episódio completo com o Mateus Pasinato:
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